No que respeita à área da educação, dos inquiridos que responderam ser estudantes, ou estarem a acompanhar os filhos com deficiência que frequentam o ensino pré-escolar, básico ou secundário (n=217), 77,9% (n=169) avaliaram as modalidades de ensino à distância de forma negativa: 48,4% classificou-as como nada adequadas e 29,5% como pouco adequadas. No caso do ensino superior verificou-se também insatisfação: do total de respostas obtidas (n=75), 69,3% (n=52) avaliaram de forma negativa a adequação das modalidades de ensino à distância disponibilizadas pelas instituições de ensino universitário aos alunos com deficiência: 33,3%dos inquiridos classificaram este acompanhamento como nada adequado e 36% dos inquiridos como pouco adequado.
O estudo destaca também que a pandemia provocou um outro impacto negativo nas vidas das pessoas com deficiência e suas famílias: a suspensão temporária de apoios e serviços: 40,1% (n=286) dos inquiridos responderam que foram suspensos apoios fundamentais tais como terapias importantes para o desenvolvimento motor e cognitivo (ex. terapia da fala, ocupacional, fisioterapia, entre outras), frequência de atividades (nos Centros de Atividades Ocupacionais, formação profissional, entre outros) e serviços de assistência pessoal. Neste último caso, dos inquiridos que responderam necessitar de apoio de outra pessoa na realização das suas atividades diárias (62%; n=449), 33,2% responderam que a assistência pessoal ou foi suspensa ou verificou-se uma redução do número de horas de apoio prestado.
Os resultados do questionário evidenciam que a suspensão destes apoios e serviços comprometeu não só a autonomia e bem-estar das pessoas com deficiência – ficando sem apoios terapêuticos e pedagógicos específicos assim como auxílio nos cuidados pessoais -, mas também dos seus familiares que, na ausência absoluta de qualquer tipo de apoios, assumiram em exclusivo a prestação de cuidados e apoio aos seus filhos – crianças e adultos com deficiência -, criando situações de absoluta exaustão nestas famílias, como ilustram os seguintes testemunhos:
“Estou esgotada.” (ID_56_ cuidador/a de criança com deficiência, de 11 anos, Vila Real)
“Ninguém pensa nos jovens deficientes com problemas cognitivos, com centros fechados e muitos com pais idosos, é uma falha que se vê muito frequentemente.
Neste momento precisa de um adulto para tudo”. (ID_255_cuidador/a de jovem de 30 anos com deficiência, Lisboa).
“Nesta fase em que as escolas estão fechadas, para ser possível dar apoio aos nossos filhos, precisamos de apoio domiciliário. É impossível fazer tudo sozinhas sem haver consequências.” (ID_231_ cuidador/a de criança com deficiência, de 8 anos, Porto)
“A pessoa que me dá apoio é a minha mãe com 91 anos. Um assistente pessoal daria jeito, assim como retomar a fisioterapia". (ID_234_ Homem_59 anos, Porto)
No que respeita à acessibilidade da informação, embora 79,8% dos inquiridos (n=564) tenham considerado a informação sobre COVID-19 facultada pela Direção Geral de Saúde como acessível ou muito acessível, foi também evidenciada a necessidade de melhorar alguns aspetos, em especial: disponibilizar informação direcionada às pessoas com deficiência, reconhecendo-as como grupo de risco; veicular informação recorrendo a formatos de leitura fácil; e utilizar legendagem permitindo que as pessoas surdas que não dominam a língua gestual possam também ter acesso à informação.